Emília Maria Fernandes

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10 julho de 1929
95 anos


Filha de Maria do Patrocínio e António Fernandes, nasceu em dia de feriado nacional, Dia de Camões e de Portugal, embora esta efeméride na altura não alterasse o quotidiano das gentes da aldeia, já que a maior parte trabalhava nas terras, e dia de descanso era ao domingo, “dia santo de guarda”. 

Cresceu no seio de uma família humilde com os seus cinco irmãos, 2 raparigas e 3 rapazes. Frequentou a escola primária até à 3ª Classe, tendo concluída este ciclo já em idade adulta, juntamente com outras pessoas da aldeia. 

Dos tempos da escola, retém na sua memória ainda muito do pouco que aprendeu, mas o hino da Maria da Fonte que diariamente cantava, ainda hoje o canta de cor e salteado, bem como as as brincadeiras de ruas pela sua aldeia, jogando ao lencinho, ao anel, às pedrinhas, ao raminho, entre muitas outras. 

Com cerca de 11 anos, viu o primeiro carro passar na estrada da Santa Cruz, um acontecimento que juntou muita gente no muro do adro da igreja ! 


Recorda com saudade os dramas que se faziam na aldeia, sempre com muita gente a assistir, onde os seus irmãos e irmã mais velha já participavam e até se lembra de algumas cantigas que ali eram apresentadas … “peneira minha peneira que estás sempre a peneirar, ai, ai, ai, que estás sempre a peneirar….” 

Já mais adulta e para ajudar nas despesas lá de casa, apanhava pinhas com outras raparigas da aldeia, para depois as venderem na cidade da Guarda. Lá iam a pé com as sacas à cabeça e rapidamente as despachavam, recebendo 13 tostões por cada uma.

Chegado o mês de junho, ía para as ceifas. Era no largo do Hotel de Turismo da Guarda, que os ranchos de ceifeiros e ceifeiras das aldeias vizinhas ali se juntavam, para serem contratados pelos grandes lavradores, e lá partiam a pé sob as orientações do manajeiro, até às terras de Belmonte, onde ficavam cerca de um mês. Era um trabalho duro, mas sempre com vontade de cantar. No final do dia o cansaço não os impedia de bailarem ao som do realejo.

Como sempre gostou de cantar, foi convidada juntamente com a sua irmã Arminda, a participarem no coro da igreja, onde andaram muitos anos, até depois de casada. Era um coro muito restrito onde só entravam alguns. Os ensaios decorriam na casa das Senhoras Joaquininhas (a velha e a nova), não sendo dado a conhecer as letras das cantigas a ninguém, e ai dos fieis que tentassem cantar durante a missa! .... 


Em 1967 casou com José Martins, naquela altura as pessoas da aldeia davam leite, arroz, açúcar etc. aos pais dos noivos, que depois devolviam, uma travessa de arroz doce, uns coscoréis e uns biscoitos em forma de presente. 
À semelhança de outras famílias da aldeia, também o seu marido foi forçado a emigrar para França, por não encontrar emprego estável em Portugal, ficando ela por cá a cuidar dos filhos, das lides de casa e do campo. Depois de 3 anos, logo regressou a Portugal e a família nunca mais se separou.

Lembra com saudade os dias da matança do porco…. Juntava-se toda a família para ajudar e conviver, era dia de comida melhorada, onde nunca faltava o arroz doce entre outras iguarias. Do porco, comia-se nesse dia os rins assados na brasa, o sangue cozido com cebolada e provam-se as morcelas, enquanto o resto havia de dar para todo o ano.
Nos dias seguintes vinha a desmancha, temperavam-se as chouriças, salgava-se a carne e faziam-se as farinheiras de trigo… 


Participou no grupo de cantares da terra “Camponeses de Aldeia do Bispo”.
Ficou viúva aos 89 anos, vivendo desde então com a sua filha em Belmonte, com o genro que sempre a chamou de mãe, dois netos e dois bisnetos.

A caminho dos 96 anos, continua lucida e bem-disposta, ocupando os seus dias ajudando nas tarefas lá de casa, cuidando das galinhas, da horta e brincando com a sua neta mais nova que faz sempre de professora e avó de aluna !
Sempre que pode, visita a sua aldeia para matar saudades dos lugares e familiares que por lá tem.

Escrito por Dorindo Vaz, dezembro de 2024.

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