Maria Fernandes da Costa
15 fevereiro de 1942
82 anos
Filha de Arminda e Eduardo, nasceu em Aldeia do Bispo, primeira de 9 irmãos, ainda todos
vivos. Foi criada juntamente com a sua irmã Lurdes com a sua avó e tias maternas até
frequentar a escola até à 3ª classe, tendo regressado a casa dos seus pais para os ajudar a criar
os seus 7 irmãos, onde trabalho era coisa que nunca faltava…..
Com apenas 12 anos de idade, o seu pai como manajeiro, levou-a à ceifa para a zona de
Belmonte, onde durante o mês de junho trabalhou com os ranchos de ceifeiros. Ao raiar do
sol, lá iam para as searas de foice em punho para desbravar os longos campos de centeio. No
ano seguinte, voltou para as ceifas em Vila Fernando e Pousade. Apesar do árduo trabalho,
recorda com saudade as canções alegres que ouvia e aprendia também a cantar, ….“corta
minha foice corta por esse pão que é rarinho …..” e foi deste duro ganha pão, que a sua mãe a
brindou com a compra do seu primeiro anel e um par de brincos de ouro que ainda guarda
com muito carinho.
Depois do verão, era tempo ajudar o seu pai com o seu irmão Horácio a fazer o borralho, que
depois era levado a pé, para ser vendido na cidade da Guarda. Ela com uma saca à cabeça e o
seu pai com outra às costas e de caldeiro de lata pela mão, percorriam as ruas chamando os
clientes com o pregão que o seu pai repetia em voz alta “quem compra o pó”!.... os pequenos
pedaços de carvão e cinza que haviam de arder de novo nas braseiras, facilmente eram
vendidos a troco de uns tostões.
Com cerca de 15 anos, foi servir para a casa de uma família na cidade da Guarda, com vista
privilegiada para o antigo quartel RI 12, na altura Batalhão de Caçadores nº. 7, onde esteve
alguns meses, regressando definitivamente à sua aldeia, por ocasião da Festa do Divino
Espirito Santo, que se realizava em Agosto.
Das muitas idas para a Quinta da Tia Maria Bidarra no Vale da Amenzendinha, para ajudar nas
lides da casa e do campo, conheceu o rapaz com quem viria a casar, quando por ali passava
com o seu carro de bois e a viu lavar a roupa ! ….
Recorda com saudade, as danças de roda aos domingos e os bailaricos na casa dos altos, ao
som do realejo e da concertina, sempre sobre o olhar atento do seu pai ou da sua mãe !
Por baixo, ficava a mercearia do Ti Joaquim Maria, onde havia um pouco de tudo, o açúcar
amarelo, o arroz, a farinha, o sal, o café negro…. tudo a avulso e em cartuchos de papel ou
cartão ….. meio litro de vinho ou um quartilho de petróleo para a candeia, ali o pouco parecia
muito !
Em 10/12/1960 casou com Herminio Matias Vaz, de quem teve 5 filhos.
Com a primeira filha ao colo, partiram juntos para a Vila do Riacho em Torres Novas, à procura
de melhores condições de vida, mas não gostou de lá estar e pouco tempo depois regressaram
à aldeia.
Com 3 filhos pequenos para criar, sofreu a dor da separação por tempo incerto, com a partida
do seu marido rumo a França em finais de 1966, à procura de melhores condições para a sua
família, mas tinha que ser !....
Com o seu marido longe, os seus dias eram de muito trabalho, pois para além de cuidar dos
filhos, ainda tratava dos animais domésticos, cultivava as terras e arranjava lenha no campo já
com a ajudas dos filhos mais velhos.
Pela Festa da Santa Cruz, levava os 4 filhos na procissão, assistia à missa e pedia a Deus a
proteção da sua família e o rápido regresso do pai dos seus filhos. Depois dava uma volta ao
arraial comprando umas santinhas de açúcar que colocava ao pescoço de cada um, e apesar da
festa ainda ir a meio, por questões de segurança, voltava para sua casa na Aldeia.
Sempre teve animais domésticos, galinhas, coelhos, umas cabritas e o porquito, que havia de
dar para todo o ano. Para além da carne que era salgada, não faltavam os bons enchidos e o
presunto que depois de 3 meses na salgadeira, ficava um mês de molho na fresca água fonte
de mergulho, para depois ser curado.
Passados 8 anos, a família voltou a estar junta de forma definitiva e tudo passou a ser
diferente, os filhos estudaram, constituíram as suas famílias, o marido conseguiu um emprego
estável, vieram os netos e no ano de 2000, com 58 anos de idade, arranjou o seu primeiro
emprego remunerado, no novo Centro de Dia da Aldeia, onde trabalhou durante 11 anos como
cozinheira. Foi o melhor que lhe aconteceu naquela fase da sua vida, pois para além de gostar
muito de cozinhar era uma alegria partilhar os dias com as gentes mais velhas da sua terra, de
quem tanto gostava.
A par disso, participou no Grupo de Cantares da terra “Camponeses de Aldeia do Bispo”
durante 20 anos, sempre a cantar a sua aldeia como nunca a tinha cantado, momentos e
memórias que ainda hoje lhe enchem a alma ….
Os dias agora são cada vez maiores e de mais descanso, diz ela _já trabalhei muito !
Ainda assim, diariamente cuida dos seus animais domésticos com muita dedicação e sempre
que pode, cuida da horta e das flores que tanto gosta …..
Escrito por Dorindo Vaz, dezembro de 2024.
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